Nos dias 13 a 20 de julho, celebramos, na Prelazia de são Félix do Araguaia, em Mato Grosso, junto ao Santuário dos Mártires da Caminhada, a sétima ROMARIA DOS MÁRTIRES que acontece a cada 5 anos
Desde primeira, em 1986, Cleusa é aclamada como “Mártir da Causa Indígena” e, entre tantos que doaram a vida , faz-se a memória de Cleusa. Tive o privilegio de participar de seis romarias, portando a foto de nossa irmã e divulgando seu testemunho.
“TUDO PELO REINO”, foi o tema central deste ano.
No primeiro dia do tríduo celebramos a memória especial de Dom Pedro Casaldáliga, primeiro bispo da Prelazia, falecido em agosto de 2020, com 92 anos. Refletimos sobre a trajetória desse pastor, seu compromisso com as causas do povo, suas opções, suas iniciativas, suas características, enfim, o legado que Pedro nos deixou.
No segundo dia foi a vez de celebramos a memória das pessoas que a COVID levou: o sofrimento dos afetados, o descaso de autoridades, a doação dos profissionais da saúde, a dor de tantas famílias, o exemplo de tantas pessoas…
No terceiro dia celebramos, ao ar livre, junto a uma capelinha, no mesmo local onde ha 46 anos foi assassinado do Padre João Bosco Penido Burnier. Após a leitura da Palavra, algumas pessoas falaram sobre o fato e uma senhora disse que … “a comunidade fazia o tríduo em honra a Nossa Senhor Aparecida. João Bosco que trabalhava com os índios Bakairi veio participar das celebrações junto com o bispo Pedro. Passando junto à delegacia, eles ouviram gritos de mulheres que estavam sendo torturadas. Aproximaram-se para interceder por elas … foram recebidos pelos agentes com grosserias e um soldado deu uma coronhada e tiro na cabeça do padre João… ele caiu… Foi socorrido… e, em agonia, levado para Goiânia onde faleceu. Enquanto procuravam transporte eu enxugava o rosto do padre… a massa do cérebro escorria…. ele disse: “Pedro, Acabamos nossa Missão”. Na missa do sétimo dia o povo derrubou a delegacia, porque dizia, que aquele lugar só servia para prender e torturar os pobres e era mesmo.”
No quarto dia à noite foi a vez da caminhada de 4 Km , portando estandartes dos mártires, com sete paradas diante de cruzes com os dizeres: CAUSAS das MULHERES; CAUSAS da ECOLOGIA; CAUSAS dos POVOS ORIGINÁRIOS; CAUSAS DOS TRABALHADORES RURAIS; CAUSAS dos NEGROS; CAUSAS dos LGBTQUIA+; CAUSAS DA TERRA . Em cada parada, clamor…. No percurso, muita reflexão, canções trazendo presente o testemunho dos mártires… A frase “ IRMÃ CLEUSA, PRESENTE NA CAMINHADA”, foi repetida muitas vezes durante o trajeto. Chegando no santuário, houve uma vigília orante, encerrando com a partilha de bolo de aipim para todos.
No domingo pela manhã, junto ao Santuário, foi celebrada solene Eucaristia, presidida pelo bispo da Prelazia, Adriano Ciocca, concelebrada por um bispo católico e dois de outras denominações, bem como muitos padres. No presbitério alguns índios Xavantes, as sobrinhas de Casaldáliga, religiosas e matriarcas da região. Após a Celebração o almoço e despedidas, esperando nos encontrar na caminhada da vida e na próxima ROMARIA.
O forte da Romaria é a espiritualidade da doação, do martírio. O bispo Pedro dizia: “Por amor de Deus, não esqueçamos os nossos mártires: um povo, uma igreja que esquece seus mártires, não merece sobreviver”.
Itabuna, julho de 2022.
Ir. Maria Josefina Casagrande, MAR