“Eis – Me Aqui, Envia – Me” (Is. 4,8)

 

A Ir. Ana Maria compartilha conosco a sua experiência missionária nas Comunidades das Curvas do rio Purus, na Prelazia de Lábrea:

 

«Chegávamos sempre às vésperas nas comunidades, e éramos bem recebidos pelas famílias, conversamos um pouco com as famílias que ali nos aguardavam e combinávamos os horários para as atividades, oração da noite, Santa missa, confissões, formação dos que iriam receber os sacramentos, preparação dos documentos, e as brincadeiras com as crianças. Após a missa havia partilha do almoço para todos, era um momento de muita alegria e confraternização. 

 

O que mais chama atenção é o desejo e a perseverança desse povo mesmo com tantos desafios, há muita esperança para seguir lutando por dias melhores. 

 

Em cada comunidade que parávamos, percebíamos os desafios desse povo para a realização dos seus afazeres diários. As dificuldades são muitas, porém a esperança e a confiança em Deus são maiores.

 

O rio estava começando a baixar as águas e com elas vão-se os barrancos, as praias já se formando, a própria natureza se transformando para que o povo possa vivenciar um novo espaço de vida.

 

 No período das cheias chamada de inverno, as famílias em sua maioria vão para a terra firme que eles chamam de “centro” ali acontece à nova vida, onde eles quebram a castanha, fazem farinha e fazem roça, para o sustento da família durante o inverno e o verão. Passam cinco meses por lá, deixando suas casas e seus pertences. Depois desse tempo retornam para recomeçar a vida nas comunidades. Algumas são mais fáceis, pois, a água não conseguiu atingir as casas, outras a água inundou e deixou os rastros (lama, cupim e matos). Além dos portos que com a queda dos barrancos o acesso fica difícil, é hora de cortar madeira para fazer as estivas para preparar o caminho do rio até as casas, eis aí o grande desafio, passar por paus roliços. Pois, se escorrega, cai e atola até o pescoço correndo o risco de se cortar ou se furar em pedaços de paus. Sem falar que algumas famílias têm que mudar as casas de lugar, porque o barranco esta quebrando bem próximo e algumas delas já estão em risco de desabar, sabendo que ao desmanchar a casa para fazer outra, necessita de novas madeiras e isso gera um desgaste físico, econômico e da própria natureza.

 

Ao subir á comunidade e visitando família por família, podemos perceber as riquezas que cada um possui, suas histórias de vida, as esperanças, as tradições trazidas por seus antepassados, em sua maioria vinda do nordeste para aventurar melhores condições de vida. Contudo, vimos também às necessidades que passam. Além dos desafios naturais da própria transformação da natureza, existem também as próprias necessidades básicas que são precárias, como a saúde e educação. Neste período, com diversas epidemias, as mais graves são a malária e a filaria. A assistência médica fica a desejar, pois à distância até a cidade é muito grande isso quando tem inflamável para o transporte de canoa de rabeta (de motor), senão fica só com os cuidados caseiros. Porque até os agentes de saúde dos setores que existem, não tem condições de atender as pessoas, faltam inclusive materiais necessários para fazer um curativo simples. A educação, estar um pouco melhor. A assistência do estado e da Prefeitura está melhorando, todos os professores receberam capacitação. Porém a forma como esses professores chega até as comunidades é um pouco desumana, vão em um barco fretado pela prefeitura, sem condições de alojamento, barco que cabiam umas 10 pessoas levam 50, sem contar as crianças, parentes dos professores com seus pertences e animais. Ao chegar à comunidade alguns encontra a comunidade esperando com o porto organizado e a escola limpa, mas outras a ponto de cair, muitos professores com seus filhos pequenos, as escolas caindo aos pedaços e suas telas para proteger contras os insetos todas arrancadas ou com buracos. Com todas essas dificuldades físicas, os professores começaram o trabalho, primeiro reunindo com a comunidade pensando como solucionar essas situações, pensar qual melhor horário para o período letivo, facilitando a organização da comunidade e com isso dá-se inicio as aulas. Também este ano aumentou os pólos do Ensino Médio, o Governo Estadual está investindo na formação a distancia com monitores e aulas televisivas via internet. A proposta é que exista um canoeiro para buscar os alunos nas comunidades mais próximas para os estudos.

 

 Nas visitas as famílias que se encontravam nas comunidades, percebíamos o empenho e a dedicação para com as “reuniões” – celebrações da Palavra.  Sentimos que existe uma perspectiva e esperança, que com a Fé em Deus suas dificuldades sejam aliviadas. Nas visitas às comunidades, celebramos, partilhamos as situações vivenciadas por eles, suas descobertas, desafios, dificuldades e conquistas. E nos sentimos acolhidos por cada família que compõe as comunidades.

Assim, subindo e descendo os portos, celebrando a Eucaristia e os Sacramentos vamos agradecendo ao Senhor por mais esta missão.

                                                                                

Ir. Ana Maria Da Silva     

 

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