Lábrea celebra os 50 anos de Vida Religiosa das Irmãs: Itárica, Josefina e Maria Helena.

A Paróquia Nossa Senhora de Nazaré – Lábrea, celebrou em sintonia com a Congregação das Irmãs Missionárias Agostinianas Recoletas – MAR, a comemoração dos 50 anos de Vida Religiosa Consagrada das Irmãs: Itárica Zandonadi, Maria Josefina Casagrande e Maria Helena Petri.

Durante os dias 15, 16 e 17 de março aconteceram em todas as comunidades da paróquia o tríduo de oração em ação de graças pelas bodas de ouro das religiosas que foi preparado pela congregação refletindo os temas: “Batismo, fonte de todas as vocações”; “Família, berço das vocações” e “Vida Consagrada, uma vocação a serviço da Igreja”.

As comunidades dinamizaram e celebraram com as Irmãs que atualmente compõem a comunidade que está em Lábrea: Ir. Itárica, Ir. Eremita, Ir. Jacira e Ir. Ivone que se fizeram presente com o povo que manifestou o carinho e gratidão pelas Irmãs jubilares e pela Congregação das Missionárias Agostinianas que já estão em Lábrea há 64 anos desde que chegaram em 1954 para assumirem a missão e os trabalhos no Educandário Santa Rita.

A celebração do tríduo possibilitou que durante os últimos dias rezássemos pela vida e vocação de todas as religiosas que por aqui passaram deixando sua contribuição na missão árdua nestas terras distantes, mas que o zelo pela missão do Reino nos aproximou.

Mora em Lábrea atualmente, das Irmãs jubilares, a Irmã Itárica Zandonadi, pessoa simples de um enorme coração missionário por quem o povo tem grande estima e consideração pelos 18 anos de sua vida dedicada à missão de Lábrea. Assim nossas comunidades aproveitaram sua presença para prestar-lhe merecidas homenagens durante o tríduo, que se deu também na passagem do seu aniversário natalício de 73 anos no dia 15 de março.

A comunidade de São José que celebrava seu padroeiro também introduziu dentro de suas festividades o tríduo e festa das bodas de ouro das Irmãs, de maneira especial em homenagem a Irmã Itárica. Durante a homilia, falando sobre São José como padroeiro das vocações, Dom Santiago Sanchez enfatizou os 50 anos de sua vocação religiosa consagrada e durante as homenagens deu-lhe em nome da Prelazia um quadro da padroeira Nossa Senhora de Nazaré e uma réplica em miniatura do barco “RegnumTuum” da Paróquia de Lábrea, barco este que Irmã Itárica navegou por muitos anos em missão nas curvas do rio Purus nas visitas ao povo ribeirinho e desobrigas. A comunidade de São José também lhe deu um livrinho confeccionado com o tríduo, que foi adaptado de maneira criativa por Gernilson Amâncio com fatos da vida dela e ilustrado com fotos de vários momentos da Irmã pela missão em nossa cidade, bem como um banner com os dizeres, que segundo ela lhe impulsionam na missão: “Fé, Missão e Martírio”. Nosso povo guarda as memórias dos muitos feitos das Missionárias Agostinianas Recoletas, e nestas bodas de ouro das Irmãs foram vários os gestos de carinho e gratidão por elas que têm um lugar muito especial no coração e na memória de nosso povo, o que justifica as intenções orantes pela vida e vocação de todas elas. Todo esse carinho enorme se estende desde Lábrea, no coração da Amazônia para as irmãs Maria Josefina e Maria Helena, bem como a toda Congregação por tudo o que representam para o povo labrense.Conheça um pouco da história de Irmã Itárica, elaborada por Gernilson Amâncio a partir de uma entrevista concedida por ela no dia 14 de março:

Irmã Itárica, nasceu no dia 15 de março de 1945, no interior da cidade de Afonso Cláudio, no estado do Espírito Santo. Era de família pobre, que morava na roça, tradicionalmente Católica, e seu pai sempre reunia a família para a reza do terço.

Ainda adolescente, com 13 anos de idade, sentiu profundamente o chamado de Deus na sua vida. Recorda que certo dia sua mãe lhe apontou um grupo de freiras vestidas com hábitos e ela ficou encantada com aquelas irmãs pela forma como se vestiam.

Os anos se passaram, mas o desejo de seguir sua vocação era sempre presente em sua vida. Certo dia, com 19 anos, ainda fazendo os trabalhos da roça, debaixo de um ‘tapiri’, sua irmã lhe perguntou: “no que você está pensando?”. Ao que ela respondeu: “Minha vida não é aqui. Minha vida é ser freira, religiosa”.

Seus pais então lhes deram total apoio e tomaram as devida providências para que ingressasse na vida religiosa. Com apenas alguns vestidos dentro de uma mochila, envolto num saco aos ombros, em cima de um carro de boi, chegou à cidade de Afonso Cláudio, e de lá pegou o ônibus em uma estrada de barro até chegar à Vitória, onde ingressou na Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas.

Aos 23 anos fez seus primeiros votos religiosos no dia 19 de março de 1968, e nessa época, já formada, foi morar no Rio de Janeiro onde viveu um bom tempo. Retornando a Vitória – Espírito Santo, foi morar numa localidade rural, distante uns 7Km da cidade, e por amar muito a terra, pois sempre trabalhou na agricultura quando morava com os pais, passou a cultivar horta e outras plantações.

No final do ano de 1984 recebeu o convite para vir a Lábrea, cidade que não conhecia a realidade, pois só ouvia as outras irmãs falarem. E no ano de 1985, com seus 33 anos, Irmã Itárica chegou a Lábrea, e seus primeiros trabalhos foram juntos aos ribeirinhos, subindo e descendo barranco, visitando casa por casa, levando formação e a mensagem do Evangelho, surgindo assim, anos mais tarde, a Pastoral das Curvas, grande desejo de Irmã Cleusa.

Os anos de 1979 a 1984 considerados por ela como anos de “brigas e de lutas” em favor do povo, participação em assembleias e movimentos populares foram essenciais para que chegasse a Lábrea com o mesmo espírito revolucionário e “sangue nas veias”. Suas atitudes continuaram as mesmas nas lutas ao lado do povo que chegavam a questionar: – “Imã você está doida?” e ela respondia: “Não! Vocês tem tudo para serem felizes nessa terra”. “Mas não pode” – diziam uns – “E se você for pra cadeia?”. Lembra a irmã, que na época foi feito um apelo para tirar um prefeito do mandato e nessa ocasião foi preciso a intervenção do Governo do Estado para acalmar a situação.

Muitos questionavam, assim como o delegado, da sua participação no movimento dizendo “que lugar de freira é na igreja”, e como resposta dizia “que ela era povo e que lugar de delegado era na delegacia”. Mesmo sujeita a represália, Ir. Itárica nunca mudou seu ponto de vista, seu pensamento, muito menos o espírito de se unir nas lutas pelas causas das mulheres, dos menos favorecidos, dos mais humilhados. Com passagem em Lábrea, já se vão 18 anos nesta “Terra de Missão” e “50 anos de vida religiosa” junto as CEB’s, aos movimentos, os ribeirinhos, às crianças da Infância Missionária, acompanhando o Setor III ou qualquer serviço na Paróquia, aí está irmã Itárica, mesmo com um dos pulmões comprometido, mas isso não a impede de viver e exercer sua missão como religiosa consagrada, pois traz sempre consigo as palavras ditas por nosso Senhor: “CORAGEM (vá em frente), NÃO TENHAS MEDO” (Mt 14,27) e sua vocação está pautada na , na Missão e no MARTÍRIO.

“Nestes 50 anos, grata a Deus pela sua família, seus pais (hoje falecidos), seus irmãos e principalmente a todo o povo de Deus que lhe ajuda a viver a sua consagração”, Irma Itárica afirma que se preciso fosse, faria tudo de novo em favor do Reino.

TEXTO: Marcelo Viana e Gernilson Amâncio

 

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